A “MECÂNICA” DO AMOR

10/05/2013 14:22


        Nossa geração foi profundamente afetada pela revolução industrial e tecnológica. Quase tudo é pensado em termos mecânicos e técnicos. Tudo depende de um especialista no assunto. Estou gordo, preciso de um nutricionista e um personal trainer. Estou com dores nos rins, procuro um nefrologista. Estou com sídrome de pânico, consulto um terapeuta ou psiquiatra. Meu casamento vai mal, preciso consertá-lo... E assim por diante. Nosso olhar para vida se tornou um olhar exclusivamente técnico. Desde quando um relacionamento deve ser encarado como um carro quebrado para que precise de conserto? Nossa visão é ferramental. Para cada problema tem uma ferramenta certa. E aplicamos esse conceito a quase tudo na vida.

 

        Mas e quando o assunto é sermos úteis nas mãos de Deus? Quantos de nós desejamos ser usados por Deus na vida das pessoas? Novamente a visão mecanicista entra em ação. Queremos ser úteis como se fôssemos ferramentas artificiais e mecânicas. Queremos ser usados como máquinas. Por quê? É simples! Queremos ser usados mas sem envolvimentos ou comprometimentos. Queremos que Deus ajude pessoas através de nós mas sem o risco de sofrermos no processo. Queremos “amar” sem dor, sem perda, sem rejeição. Queremos ajudar o imundo sem nos sujarmos. Queremos curar o leproso sem nele tocar. Queremos ser úteis, desde que não corramos o risco de nos apaixonar pela pessoa, de sermos traídos, de sermos enganados, de sermos abandonados. Queremos amar por “controle remoto”, à distância. Queremos mostrar o amor doador de Deus sem nos doar ao próximo. Enfim, queremos ser úteis a Deus e ao próximo como ferramentas frias e mortas. Afinal, só objetos e máquinas não sofrem nem sentem nada.

        Deus quer nos usar. Deus quer te usar. Mas para mostrar seu amor Ele quer usar pessoas. Ele usa seres humanos nesse propósito. Mas seres humanos sentem. Seres humanos se envolvem. Pessoas sofrem, se emocionam, se deixam cativar, sentem dor quando algo é arrancado e choram diante da miséria e da desgraça. Amar num mundo como o nosso é a receita garantida de sentir a dor. Ser uma ferramenta humana significa ser afetado pela realidade das pessoas que se pretende amar. Não existe amor por “controle remoto”. Temos que ir ao encontro, tocar, nos envolver, sentir. Não foi isso que Deus precisou fazer para mostrar seu amor por nós? Se fez humano e veio ao nosso encontro. Sentiu, tocou, abraçou, chorou, sofreu e morreu em nosso lugar. E ninguém que passou por aqui foi tão usado por Deus quanto Jesus. Mas nós queremos ser usados sem comprometimentos. Impossível! Somos humanos e não máquinas! Se formos machucados perderemos sangue e não óleo. Somos de carne e osso, e não de metal e silicio. Como você se sentiria se estivesse no lugar do profeta Oséias? Se não sabe nada sobre ele, leia sobre a sua história na Bíblia.

 

        A “MECÂNICA” DO AMOR depende de ferramentas como eu e você. Mas somos humanos! Sujeitos a emoções, medos, perdas, dores e tudo aquilo que faz parte da natureza humana. E então? Ainda deseja ser usado por Deus?

 

(Caraguatatuba,SP – 04/05/2013)