O CANIBALISMO DA CARÊNCIA

17/05/2013 10:45

    Confesso que fiquei na dúvida sobre qual título dar a este artigo. Não sabia se o chamava de “A Solidão da Beleza” ou de “O Canibalismo da Carência”. Bem, achei que seria melhor dar ao título o mesmo foco do final do artigo.
    Há tempos tenho lidado com um dilema no mínimo interessante. A solidão que mulheres (e homens em menor escala) enfrentam por serem belas. Pode parecer contraditório, mas tem muita gente que enfrenta esse drama. A bênção da beleza pode trazer consigo essa maldição da solidão. Isso porque a “bela” e o “belo” sempre desconfiam das intenções daqueles que se aproximam. E onde há desconfiança não há espaço para a intimidade. E onde não há intimidade... reina a solidão.
    Mas esse problema é um pouco mais complexo do que parece. Já estive envolvido em situações semelhantes e recentemente algumas mulheres têm relatado esse drama. Dizem que o “cara” interpretou mal a situação. Afirmam que não sabiam, não imaginavam, que em suas mentes era só amizade... etc. “Concluem”, então, que precisarão se afastar, contra a própria vontade. Bem, gostaria de me dirigir agora especialmente aos homens e mulheres belos de nossa sociedade.
    Você já se olhou  no espelho? Você sabe que é bonita(o)? O que você acha que isso gera nas outras pessoas? Você não sabia que vivemos em uma selva onde homens e mulheres se alimentam da beleza uns dos outros? Ser bonito no nosso mundo não necessariamente é uma bênção pura e imediata. Todas as pessoas a quem Deus deu a beleza deveriam também, desesperadamente, pedir a Deus SABEDORIA. Pois a beleza causa impacto, queira você ou não. A beleza mexe com os instintos de todos os que a apreciam. A beleza seduz por si só. Por isso a pessoa portadora desse dom carece tanto de sabedoria e amor. Ela carrega uma “arma” de sedução que se for manuseada de forma errada ou leviana pode fazer grandes estragos.
    Mas existe um contexto onde a beleza pode ser ainda mais perigosa. A beleza nas mãos de uma pessoa “carente” pode ser equivalente a uma arma de destruição em massa. Não como uma arma nas mãos de um mitilar treinado e especializado nesse tipo de armamento, mas sim nas mãos de uma criança. Seria quase como dar o controle remoto com o botão de detonação para uma criança brincar. Assim é a beleza nas mãos do “carente”. E muitas pessoas “belas” brincam inconscientemente com essa arma. E ainda se beneficiam do “mágico” poder de atração que têm. Que mulher não gosta de ser paparicada? Que mulher não gosta de ser cercada de carinhos, elogios e cuidados especiais? Que homem não gosta de saber que aquela mulher está interessada e toda fascinada? Você pode até dizer que é absurdo, que não deveria ser assim etc. Mas é assim que é a natureza humana! Gostemos ou não! A nossa carência pode se beneficiar e se alimentar da nossa própria beleza para cultivar uma amizade utilitária, ou para manter com um amigo um padrão de comportamento repleto de mensagenzinhas ambíguas, abracinhos, toquezinhos nas mãos, olharezinhos, enfim, “coisinhas” que prendem o outro só para suprir a nossa própria falta de carinho e atenção. Geralmente são atitudes de auto-proteção ligeiramente disfarçadas para que, quando o outro se declarar, nós nos esquivemos dizendo que fomos mal interpretados. Mas isso é utilitarismo disfarçado. Você está usando alguém que “caiu na sua rede” para suprir suas próprias carências não declaradas.
    Mas estamos nos esquecendo de uma coisa. O “peixe” que caiu nessa rede também é uma pessoa carente. Talvez, uma das coisas mais CANIBAIS que existem no mundo seja a CARÊNCIA. Quando vemos essa cultura da “ficação” onde todo mundo fica com todo mundo e “traça” todo mundo, na verdade estamos olhando pra uma SOCIEDADE CANIBAL. Pois a carência de um se alimenta da carência do outro. É carência comendo carência! E isso não tem limites... É canibalismo! Não tem absolutamente nada a ver com o AMOR. Não foi esse o tipo de sociedade que Deus planejou...
    Queridos, a beleza e a carência não são “brinquedinhos” inocentes. Cuidado, podem fazer grandes estragos.

 

(Caraguatatuba, SP – 17/05/2013)