MIOPIA

01/03/2014 13:35

           Hoje assisti a um vídeo muito interessante da cantora húngara Boggie. Ela decidiu combater a “ditadura da beleza” lançando um videoclipe onde mostra que as tais “musas” da mídia não passam de imagens fabricadas, irreais e ilusórias de mulheres que são bem diferentes do que aparentam ser. Nesse vídeo ela se mostra sendo transformada pelos recursos tecnológicos de algum programa tipo “Photoshop”, até que ao final do Clipe transforma-se numa “musa”. Não sei o que diz a letra da música, afinal não entendo húngaro, mas tudo bem. O que realmente me chamou a atenção foram os comentários feitos no site do vídeo. Para você ter uma ideia, vou transcrever aqui dois desses comentários: “Eu quero saber que programa é esse…” “Muito bom hein, qual programa é esse pra mim baixá?” Impressionante! Como alguém pode fazer esse tipo de comentário após um vídeo desses? Por que as pessoas dessa nova geração não conseguem enxergar um palmo além do nariz?

            Nossa geração está tão absorvida pelo imediatismo que tem grandes dificuldades de enxergar as coisas de forma mais ampla. A tecnologia tem alimentado uma “pressa” tão exagerada e focada que tudo acaba se resumindo no “agora” e “já”. Quase ninguém mais conhece o seu passado cultural. E quase ninguém pensa no futuro. É claro que o que passou, passou. E é evidente que o amanhã pertence a Deus, mas quem vive perdido no “agora” não sabe de onde veio e nem para onde vai.  Tudo é tão instantâneo que basta apertar um botão e “pronto”! Creio que essa cultura também tem alterado a capacidade de compreensão das pessoas. Isso porque elas estão perdendo a habilidade de abstrair conceitos, compreender textos, imaginar idéias, tirar conclusões, comparar situações, deduzir consequências e discernir o cerne das coisas. Em outras palavras, estamos convivendo com uma geração funcionalmente analfabeta. Essa geração só consegue ver o óbvio. Somente o que está debaixo dos seus olhos… “e olha lá!” É uma espécie de MIOPIA cultural e cognitiva. Seu campo de visão é limitado por uma espécie de viseira que tem sido colocada cada vez mais cedo pelo sistema de educação. É uma geração que tem agido como o gado que caminha para o abatedouro. Ele vai sempre à frente, “feliz” por não se sentir sozinho, afinal está acompanhado de tantos outros ao seu lado, mas não sabe o que o aguarda atrás daqueles “portões”.

            Essa situação lembrou-me de um amigo que trabalha com os índios Yanomami. Certa vez ele me contou uma experiência interessante. Quando ele ainda estava aprendendo a língua e a cultura deles, para poder conhecer as palavras e os nomes das coisas, ele apontava para aquilo que queria saber e perguntava qual era o nome do objeto. Para sua surpresa e confusão, cada coisa que ele apontava recebia sempre a mesma palavra como resposta. Ele logo percebeu que alguma coisa estava errada. Não era possível que coisas tão diferentes tivessem o mesmo nome. Só um tempo depois é que ele descobriu que a palavra que eles estavam usando significava “dedo” na língua yanomami. Ou seja, toda vez que ele apontava para algo, os Yanomami não olhavam para aquilo que seu dedo apontava, mas sim para o próprio dedo. Então eles sempre respondiam “dedo”, e achavam que ele estava perguntando de novo por não ter entendido. Claro que isso aconteceu devido a uma diferença cultural. Os Yanomami quando querem apontar algo não usam o dedo, mas sim o nariz. Mas essa hilária situação se parece com a triste realidade de nossos dias. Somos tão focados, tão imediatistas que não conseguimos ver um pouco além. Não raciocinamos, apenas reagimos quase que instintivamente. Não conseguimos olhar para onde os profetas e sábios estão apontando.

            Creio que existe uma razão por traz desse comportamento. Uma geração plugada, “linkada” e viciada em tecnologia está se tornando semelhante às máquinas. Sim, essa é uma geração que ADORA tecnologia. E destaco a palavra “adora” porque essa relação com o mundo tecnológico é essencialmente religiosa. As pessoas hoje veneram a tecnologia como se fosse uma espécie de deus. Seus “Smartfones” e “Tablets” são como varinhas mágicas ou ídolos e amuletos sem os quais não podem ficar. Bem, a MIOPIA pode ser tão grave que algumas pessoas talvez não se vejam incluídas nisso só porque eu disse “Smartfones e Tablets”, pois na verdade elas apenas possuem “iPod”, celulares comuns ou Pcs. Meu Deus! Será mesmo que alguém pensou isso?

            Existe um princípio profundo por trás do conceito da adoração. Todo adorador se transforma na semelhança daquilo ou daquele a quem ele adora. Essa é uma das leis universais. Ninguém está livre disso. Existe um salmo das Sagradas Escrituras que diz assim: “Os ídolos das nações não passam de prata e ouro, feitos por mãos humanas. Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver;têm ouvidos, mas não podem escutar, nem há respiração em sua boca. Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam” (Salmos 135:15-18). Creio que os ídolos humanos também se atualizam. Hoje continuam sendo obra das mãos humanas, mas carregam uma tecnologia com a qual nem se sonhava nos tempos em que o salmo foi escrito. Parece um avanço, um progresso, mas creio que estamos nos tornando estúpidos. Ainda no século passado, Albert Einstein afirmou: “Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma geração de idiotas.” Pelo jeito, além de cientista, Einstein também era “profeta”.

            Será que não é hora de acordar para nossa própria humanidade? Um dos primeiros convites que Deus faz ao ser humano nas Escrituras é: "Venham, vamos refletir juntos", diz o Senhor. "Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão.” (Isaías 1:18 – grifo meu). Deus nos fez racionais, com a capacidade de reflexão. Não somos autômatos nem robôs. Somos humanos feitos à imagem de um Deus que pensa, um Deus inteligente, criativo e acima de tudo, fonte eterna de Sabedoria. Mas a escolha é nossa! Podemos adorar a Deus e resgatarmos Sua imagem em nós, ou podemos adorar qualquer outra coisa... e nos tornarmos semelhantes a isso. Simples assim!

 

(Ubatuba-SP - 01/03/2014)