OS MEIO-HUMANOS

10/05/2013 14:13


        O que seria um ser humano completo? Ou simplesmente, o que seria um SER HUMANO? Creio que um bom texto para refletirmos sobre isso seria o de Gênesis 1:26 e 27:

 

 

“Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

 

        É interessante notar nesse texto que quando Deus “fala”, Ele refere-se a si mesmo na primeira pessoa do PLURAL: “Façamos”! E no próximo verso parece que o “ser humano” criado à imagem de Deus é – homem e mulher. Ou seja, a imagem de Deus é PLURAL. Isso me leva a pensar em algo curioso: É como se Deus, ao criar Adão, tivesse criado apenas meio (1/2) ser humano. Só depois, quando Eva foi formada, é que então a imagem de Deus estava completa. É como se a essência de “ser humano” fosse sempre no mínimo duas pessoas. Isso tem total coerência com o “façamos”. Um Deus TRI-UNO (Pai, Filho e Espírito Santo), coletivo, plural, quando cria algo à sua imagem e semelhança, esse algo não poderia ser singular. Se apontamos um espelho para duas pessoas ele não refletirá uma pessoa, mas duas. Logo, a “imagem de Deus” recém-criada só poderia ser coletiva.

 

        Isso traz implicações tremendas para nossa realidade existencial e social. Creio que nunca houve um mundo tão individualista como o nosso. E nunca houve uma epidemia de solidão tão profunda como a que vivemos hoje. E me parece que isso tem a ver com a perda das nossas origens. Perdemos nossa essência original, nossa imagem primária. E a cada dia mais estamos nos afastando dela. Somos cada vez mais individualistas, egoístas e insensíveis.

        O que é uma pessoa desumana? O dicionário define desumano assim: “Que não é humano; cruel, impiedoso.” Mas como um ser “humano” se torna “desumano”? Creio que o primeiro passo é quando ele deixa de viver como “ser humano” e passa a viver como “meio-humano”. Sim, o individualismo é o primeiro passo na direção da crueldade. O individualismo é uma forma de sermos meio-humanos. Quando saímos da coletividade é como se perdêssemos o status de humanos e nos tornássemos apenas meio-humanos. É como se disséssemos: “Eu quero ser só Adão! Eu quero ser só Eva. Eu me basto! Não preciso de ninguém! Ninguém precisa de mim! Vou ser uma ilha”. Talvez só sejamos realmente humanos quando vivemos a coletividade.

 

        Mas não basta apenas ser coletivo! Essa coletividade tem que ser uma COLETIVIDADE DE AMOR. Por isso esse Deus que é o próprio amor em pessoa é um Deus TRI-UNO. O amor existente entre Eles é tão perfeito que não existe coletividade tão unida quanto DEUS. Por isso se diz que só há um ÚNICO DEUS. O amor que os une os torna um só. Por isso também se diz que no casamento de amor o homem e a mulher se tornam UMA SÓ CARNE. O amor é o cimento perfeito! Toda edificação unida com o cimento do AMOR parecerá uma coisa só. Por isso um casamento ou uma amizade construídos com amor durarão para sempre.

        Mas fica uma pergunta: Será que só dois ou três já seriam suficientes para refletir essa “imagem de Deus”? O que me faz pensar que sim, é a afirmação de Jesus: “Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles” (Mt 18:20). Acho que não temos noção da grandeza de se viver em comunidade de amor. Não fazemos idéia do real significado de viver em comunhão de amor com o próximo. Nem sequer imaginamos o impacto que o viver em comunidade causa no mundo espiritual. O Diabo odeia a imagem de Deus e tudo aquilo que o faz lembrar dEle. Não seria essa a principal razão de tantos lares destruídos? Não será por isso que o próprio conceito de família está desaparecendo? Confesso que o que mais me corta a alma é perceber que as comunidades religiosas que muitos chamam de “igrejas”, não são coletividades de amor, mas apenas ajuntamentos de MEIO-HUMANOS. Daí para a crueldade é só um pulinho. Ou já nos esquecemos das “guerras-santas”, das inquisições etc etc etc?
        Pense nisso: VOCÊ É UM SER HUMANO OU APENAS MEIO-HUMANO?

 

 

(Caraguatatuba, 28 de abril de 2013)