“PEIDOS” ESPIRITUAIS

10/05/2013 14:24


        É isso mesmo que você leu! Eu disse “PEIDOS” e não peitos. Meu Deus! Será que quase todo mundo perdeu a capacidade de aprender alguma coisa com a dor?!!! Acho que o que vou escrever agora é mais um desabafo do que propriamente um artigo. Como a nossa sociedade é viciada em analgésicos. Fazemos qualquer negócio para não sentir dor. Estou cansado de não poder ter conversas abertas e francas com as pessoas. Parece que não podemos ser humanos. Não podemos ter fraquezas, medos ou nada semelhante. Tá todo mundo vidrado em qualquer coisa que ajude a esquecer as feridas. Ninguém quer saber de cura ou cirurgia. O importante é não sentir nada. Então, vamos “encher a cara” com as baladas, com os programas de entretenimento, com muito sexo, trabalho, religião, fast food, álcool, funk, BBB e outras drogas. Mas a loucura desse mundo tá mais presente do que nunca. As síndromes de pânico estão aumentando cada vez mais. A despeito das classes sociais, as pessoas estão sofrendo. Mas parece que ao invés de se perguntarem o que podem aprender com a dor só estão pensando em aumentar a dose dos analgésicos.

 

        Li outro dia que “a sabedoria carece de dor para crescer” (Fábio de Melo). Talvez por isso nossa sociedade careça tanto de sábios. Onde estão aqueles idosos cheios de mansidão e sabedoria com os quais podemos passar horas conversando e aprendendo coisas sobre a vida? Onde estão aqueles mestres que têm muito a ensinar sobre como enfrentar a vida? Os idosos que conheço hoje são como adolescentes imaturos, cheios de “medinhos” e traumas, egocêntricos o suficiente para não se preocuparem com as novas gerações. São hipocondríacos incuráveis, preocupados apenas com sua saúde e segurança. Quando chegam na “terceira idade” pensam: “Agora chegou a minha vez de curtir a vida!” Nada contra curtir a vida na velhice; eu mesmo pretendo continuar curtindo a vida quando chegar a minha vez (se chegar). Mas é só isso que um idoso ou idosa tem a fazer? Puxa, a vida é difícil pra todo mundo! O sofrimento não faz acepção de pessoas, mas por que ninguém mais quer aprender com esse professor?

 

        Quando trabalhei por uns 9 anos como voluntário na capelania do HC da Unicamp, eu tive lá um amigo, o pastor Chico Motta (já falecido). Lembro-me que ele sempre dizia: “O pior sofrimento é o sofrimento inútil.” Como ele tinha razão! As pessoas hoje sofrem, sofrem, sofrem mas não aprendem nunca. Estão se anestesiando cada vez mais. Estão parecendo zumbis dopados com qualquer coisa que faça esquecer. Ontem à noite estava conversando com um amigo querido, o Danieder. Ele lembrou um texto pra lá de interessante:

 

 

“SENHOR, no meio da aflição te buscaram; quando os disciplinaste sussurraram uma oração. Como a mulher grávida prestes a dar à luz se contorce e grita de dor, assim estamos nós na tua presença, ó SENHOR. Nós engravidamos e nos contorcemos de dor, mas demos à luz o vento. Não trouxemos salvação à terra; não demos à luz os habitantes do mundo.” (Isaías 26:16-18)

 

 

        Tenho convivido com cristãos que se contorcem de dor, que gemem pelo sofrimento, com corpos e almas marcados por amputações, gritando como em dores de parto, mas na hora de dar à luz, concebem vento. Sim, as dores no ventre são como as da gravidez, mas ao invés de dar à luz homens e mulheres, dão à luz um PEIDO. Ao invés do sofrimento gerar maturidade está gerando seres humanos vazios, ocos e cheios de melindres. Hoje, se você for confrontar alguém, mesmo que seja com toda mansidão, serenidade e amor, esse alguém se ofende, fica dodói e magoado. Meu Deus, nem um rato reage assim diante de uma dificuldade ou contrariedade! O que está havendo com a essência do ser humano? Parece que a dor, que deveria ser encarada como oportunidade de crescimento e fortalecimento de caráter, está sendo vista como uma espécie de ácido que vai nos dissolver até não sobrar nada.

 

        É interessante notar que o apóstolo Paulo usa a mesma figura das “dores de parto”. Ele diz que sofria as dores de parto até ver Cristo formado nos gálatas (Gl 4:19). Deus permite que soframos porque quer produzir o caráter de Cristo em nós. Quer nos ver dar à luz HOMENS E MULHERES ESPIRITUAIS. Gente com caráter, com fibra, com conteúdo. Mas parece que só estamos parindo PEIDOS ESPIRITUAIS. Gente tão melindrosa e insegura que é capaz de se incomodar com o fato de eu ter usado o termo “PEIDO” mas não se incomodar com a realidade descrita aqui.

 

        Pense no que o meu falecido amigo disse: “O pior sofrimento que existe é o sofrimento inútil!”

 

(Caraguatatuba, SP - 08/05/2013)